“Um homem só terá um pouco mais de segurança quando conhecer os seus limites e possibilidades em condições favoráveis e principalmente, nas desfavoráveis.”
Keko
Ano passado, na BassPro, peguei um colete salva-vidas na mão, daqueles infláveis – ar comprimido (prático, bastava puxar a cordinha) e coloquei de volta na prateleira porque achei ele incômodo e pesado. De lá pra cá isso não me saiu mais da cabeça, afinal, a vida não tem preço!
Uma assombração me assolava: “o que vai acontecer quando eu cair no rio, onde não dá pé, no meio da correnteza e de wader?”
Minha resposta: o wader vai encher de água e ficar muito pesado e pra piorar, estarei usando bota, ou seja, a menos que alcance uma pedra ou um galho, correrei sério risco de vida de morrer AFOGADO (destino certo na minha cabeça)!
Já passei por 3 situações críticas, então, o instinto de sobrevivência me diz o seguinte: se escorregar ou cair, tente se jogar onde há uma pedra, galho, qualquer estrutura!
Bom, melhor ter certeza. Por isso, fui fazer o teste de campo. Vamos lá:
EU:
Peso: 115 kg
Alt. 1,89 m
Roupa do corpo: Calça jeans, cinto e camiseta (comum nas pescarias)
Wader: tipo respirável, Cabela’s BlueStream
Wading boot: Cabela's Zippered Felt-Sole (neoprene)
Cinto do wader: de nylon, caseiro, com trava de plástico
Preparado:
1ª Situação: Se o pescador cair na água, provavelmente poderá contar com o ar preso nas pernas para auxiliar na flutuação, se estiver com cinto. Então, entrei na água até o joelho apenas (o que me dá uma boa reserva de ar) e me joguei na água afundando completamente.
Sem problemas, consegui atingir a superfície COM FACILIDADE e nadar...
2ª Situação: Quanto mais fundo você caminha no rio, mais o wader aperta contra o corpo e elimina o ar ali de dentro. Segunda experiência: tirar o cinto e todo o ar de dentro do wader, afundar e tentar nadar:
Sem ar, no limite da roupa, coloquei o cinto e me joguei na água:
Consegui nadar tranquilamente!!!
Veja como o wader encheu de água, do joelho pra baixo, MUITO PESO:
3ª Situação: caindo em uma corredeira, conforme a sua posição, o wader vai encher de água entre 3 e 5 segundos! Neste último teste, tirei o cinto, enchi o wader de água, coloquei o cinto de volta e tentei nadar:
Teste:
Foi possível mas, nadar exigiu mais esforço! Nada excessivo que alguém cansado não consiga executar até alcançar alguma estrutura e se salvar. Obviamente o peso da água dentro do wader é o mesmo que fora. Porém, o peso (água) de dentro do wader você tem que carregar, além do seu próprio peso.
4ª Situação: nadar sem cinto por fora do wader (ERRO GRAVE). Em águas paradas é tranquilo mas, essa atitude é a que mais mata pescadores com waders e a piscina não revela isso. Sem cinto, a turbulência das águas do rio, somada a corrente forte, faz o efeito paraquedas, também chamado de âncora ou seja, cata o pescador e o arrasta com violência: o pescador perde totalmente o controle das suas ações. Não adianta saber nadar, a pressão da água te arrasta, gira o corpo, te joga de um lado para o outro, afunda e te AFOGA! Mesmo o wader estando cheio de água, “outra” leva de água não entra (dois corpos não ocupam o mesmo lugar), porém, é justamente esse fato que mantém a pressão constante (empurrando) o pescador e o levando à morte! Cair num rio turbulento e com águas rápidas, sem cinto, é suicídio!
Ponderações:
Uso um wader respirável que é uma membrana muito, mas muito leve, portanto, me ajudou permitindo uma boa natação e sem peso pra carregar!
Wading boot: Imaginei que seu peso atrapalharia e eu conseguiria tirar dentro da água facilmente, caso precisasse me livrar dele, já que o modelo que uso tem apena um zíper para liberar o calçado: PURO ENGANO!!! Não sai, nem fazendo força. A água cria uma espécie de vácuo que não deixa a bota sair do pé de jeito nenhum, salvo, ESFORÇO EXTREMO! Por outro lado, como é uma bota de neoprene, macia e leve, o nado foi bem facilitado!
Cinto: Tem uma função importantíssima que é impedir o efeito "paraquedas" e que a água que entra no wader não passe da cintura pra baixo, ou seja, não atinja e suas pernas e pasmem: FUNCIONA! Você cai na água mergulhando totalmente e suas pernas estão SECAS - na primeira tentativa praticamente não entrou água!! É PRECISO USAR O CINTO!!
Esse teste serve para sobreviver em águas profundas e calmas ou com pouca correnteza. Águas turbulentas e velozes podem causar o efeito parachute (paraquedas) no wader e te matar. Leia os artigos indicados no final.
Conclusão Final: O equipamento utilizado me permitiu nadar com muita facilidade, salvo na 3ª situação, porém, nada grave a ponto de colocar a vida em risco, nem perto disso! Antes deste teste, minha idéia, ao escorregar no rio, era tentar jogar o corpo próximo a uma estrutura pra não morrer afogado: ERRO GRAVE. Se eu cair numa pedra com limo, por exemplo, minha mão pode escorregar e eu bater a cabeça e as consequências podem ser desastrosas! Se escorregar, hoje, me jogo na água e me salvo sem maiores problemas! Obviamente, procurando nadar com o corpo sempre NA HORIZONTAL, próximo a superfície, pois, nas corredeiras pode haver galhos de árvores e as suas forquilhas prenderem o seu pé e a correnteza afundar você!
Não esqueça, você pode cair e, durante a queda bater a cabeça e desmaiar. COLETE SALVA-VIDAS sempre é o meio mais indicado e seguro de sobrevivência (daqueles modelos oficiais da marinha, que deixam a sua cabeça livre para tomar ar). Porém, se a queda com wader na água não lhe trouxe nenhum ferimento grave, SIM, é possível se salvar e com certa facilidade, pelo menos, nos rios que enfrento por aqui (baseado nas minhas condições: boa natação e equipamentos leves).
DICA DOS ESPECIALISTAS: Use sempre cinto (belt), e bem apertado, para prevenir o efeito “parachute”. Se for atravessar algum lugar de alto risco, suba o cinto até onde for possível para segurar a maior quantidade de ar possível no seu wader e evitar o efeito âncora. Nade sempre com a cabeça para fora da água e de costas para a correnteza, para que ela não possa te pegar, girar ou encher o wader de água. Não fique à deriva descendo o rio, isso é para quem usa colete salva vidas, na condição de pescaria, o risco de acidente com pedra ou estruturas é alto.
Não esqueça, piscina é “água parada”, na natureza haverá desafios maiores, o importante é saber dos seus limites e possibilidades, como diz o Bear Grylls (À Prova de Tudo – Discovery Channel): “o sobrevivente é um oportunista” e eu digo mais: “desde que não seja negligente e conheça os seus limites e possibilidades.”
Fazer esse teste me tirou uma grande dúvida e um pânico da minha cabeça e me deu firmeza, coragem e confiança pra agir sem pestanejar, em situações desfavoráveis, porém, sem nunca subestimar o poder da natureza! Nunca acredite em contar com a sorte, seja precavido!
Teste seu equipamento e pesque em paz e com segurança!
keko
Para leitura, tragédias reais. Leia os comentários, são interessantíssimos: